quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Terapias


Sendo muitos de nós terapeutas , e começamos por essa via, nos vimos, na medida em que nosso trabalho prosseguia, obrigados a repensar toda nossa conceituação , uma vez que, em se considerando a natureza essencial do homem como sendo Divina, nosso aporte do sofrimento humano mudou.

Curiosamente, fomos percebendo que o modo como cada um interpreta o seu sofrer, o modo como esse sofrimento se liga a orientação geral da vida, ou seja, o como cada um vincula sua dor com a sua existência , o modo como a questão do Sentido se faz presente, ou é ignorado, parece fazer uma diferença nessa relação do sofrimento com o sofredor.

Se para alguns a vida parece infame em seus absurdos, e apresentam muitos argumentos para apontá-lo, para outros a vida se assemelha a uma viagem de muitos percalços , incluindo aí o sofrimento, que nesse caso é visto, como o modo pela qual o espírito se apura em sua beatitude redentora.

Essa diferença têm sido apontada, por muitos estudiosos que enfatizaram, que o sofrimento humano é também um modo de decisão do sofredor.

De qualquer forma, há aí de fato, uma grande diferença, pois se para uns a vida é fruto do acaso, e o sofrimento é um dos modos como esse Acaso se produz, para outros o sofrimento é uma estrutura complexa de significações, inclusive transcendentais.

O que observamos, é que a diferença, não está no real do sofrimento, pois se sofre de um jeito ou de outro, mas em como cada sofredor acolhe o seu sofrer, no âmbito geral dos seus valores.

Se por um lado, a imanência torna o destino irrecusável, sem propor-lhe nenhum a mais, por outro, esse mesmo sofrimento parece fazer parte de um destino mais amplo, que insere inclusive as destinações sobre o morrer.

Afinal o destino é a morte ? ou a morte é apenas um destino, talvez não tão funesto, para um Além que espera ser reconhecido conceitualmente?

No que diz respeito então a neurose, fomos vendo que a neurose é um sofrimento do Apego, principalmente, naquilo que sabe impossível de manter.

Parece ser o sofrimento concreto, onde a matéria parece recusar o espírito com sua natureza abstrata demais, para uma mente que sofre a ameaça de morte, onde esse abstrato parece o fim.

Esse fim, é para muito de nós o pavor, a ameaça de um destino fatal e ladrão de tudo, contra a qual só nos resta nos defender sempre, criando muralhas de proteção, por dentro e por fora, para não sermos alcançado logo. É a estranha fantasia, que se escondermos o endereço estaremos mais a salvo, ou seremos deixados para depois.

O tempo é o mensageiro da morte e por isso o negamos e fugimos para onde coletivamente temos muralhas em comum, ou seja, para superfície.

A superfície nos tira das grandes questões e nos remete ao que supostamente se resolve mais rápido, embora, as brechas que nos indica a precariedade desse arranjo, ignoramos ou adiamos, para um depois indefinido.

É assim então, que vemos o sofrimento surpreendendo a todos que optaram pela recusa dos avisos a cada adiamento, são pegos pelo pavor da surpresa, que retira qualquer imunidade de promessas, que só cada um de nós pôde legitimar em seus escaninhos particulares.

Nesse aspecto o sofrimento parece pegar a todos, pois parece que o tempo, vai chegando a cada um sem que haja cume de montanha que não se possa alcançar.

Cada um é obrigado a descobrir, levantar o véu um pouco que seja, para ter um horizonte um pouco mais pra lá, ou então, firmar o horizonte todo do lado de cá, onde a Cultura é o Mestre que ensina, onde o gozo é tão livre como fugaz.

Essa fugacidade, é a que nos obriga a busca rápida do enquanto é tempo, enquanto a morte não vem, que nos atordoa sempre.
Saber a vida presa nessa forma do tempo que passa logo, nos obriga a ser rápido e ao mesmo tempo a sofrer de dúvidas sobre nossa capacidade de ser tão ágil, já que as condições sociais parecem tão mais fáceis para mais do que para outros.

Gozar, nesse caso, é depender dos caminho comuns , instituídos no campo da justiça e das injustiças nossas de cada dia.

Mas se a vida ficou tão difícil para maioria, como aproveitar logo a vida antes que a morte nos mate?

Qual nosso desespero?

Agarrados a sonhos frustrados, à nostalgias do que se passou e nunca aconteceu, à melancolias do que se perdeu sem ter tido, vamos nos perguntando o que nos resta, sem saber a quem, descrentes das respostas que qualquer poder nos ofereça.

Talvez nosso pessimismo , venha da constatação de que as formas de poder estabelecida, fracassaram tão rápido, que não nos deram tempo de acordar dessa cumplicidade, que nos faz dormitar em vão, na espera de que nos digam algo que nos livre desse estranho desafio, de ter que viver, mesmo sem acreditar ou de saber pra que .

Nosso trabalho, nos levou ter que pensar nesse conjunto de questões seculares ou talvez eternas, e para isso, resolvemos recolocar o propriedade inalterável de cada um desses pontos e ver que o sofrimento mental hoje, talvez nunca tenha estado tão órfão de suas raízes mais profundas, apesar de todo arsenal científico a nossa disposição.

Somos psicoterapeutas e fisioterapeutas , que nos juntamos para que nosso corpo não fique tão longe de nossa mente e vice –versa , venha nos conhecer.

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